16 maio, 2012

Qualquer dia

Qualquer dia mudo-me para uma casa abandonada, onde só existem os desejos e os sonhos daqueles que já se foram. Como podem as pessoas ter medo daqueles que vivem em cinzas ou num caixão confinado, se são os vivos que tornam o nosso mundo não tão brilhante, como gostaríamos? Para mim, tudo é tão chato, tão cheio de regras e padrões, de facadas e chapadas, tão de sorrisos melosos e mentirosos. Quero voar daqui, era bom voar daqui para uma casa abandonada, fazê-la minha e enchê-la só de mim. Viveria solitária, mas acompanhada só das minhas coisas. Passaria os dias a escrever, a sonhar com o impossível, a desejar nunca me ter apaixonado pelas coisas maravilhosas da vida, a utilizar a máquina fotográfica para me recordar a mim própria, a ver o sol entre as pálpebras e a adormecer nas águas rasteiras. Nada mais seria necessário. Pelo menos, hoje é isso o que me apetecia.