10 dezembro, 2012

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Não gosto de olhar para trás e sentir saudades das pessoas de quem gostei, que seriam possíveis de se amar. Nunca pensei que aquelas poucas pessoas, só por partilharem comigo parte da genética, me fizessem falta. A falta que durante vinte tempos nunca conseguiram dar cabo. Agora que tudo, mais ou menos, parece se encaixar sem que precise de muito pensar. Fazem-me comichão. Uma comichão que não se coça, em que se vê a pele desfiar e o sangue a resmungar. Resmunga que ninguém o controla. Segreda que, no meio das gentes, ninguém terá a mesma consistência. Coisas que ficaram por dizer, outras por rebentar e outras ainda por descobrir, quiça, repartir. E sinto-me como se tivesse quarenta, um quarenta morto vivo. O peso de uma herança vazia, na balança que não sabe pesar, pesa tão levemente que nunca irá acertar. E um dia, o vazio irá degradar-se até que reste o nada. É do nada que tenho medo. E ele parece não ter medo de mim.