20 novembro, 2011

Mais um dia

Ele sentiu-se tão frágil, tão insignificante. Passou horas a reflectir, palavra tão imperiosa naqueles tempos, sobre o quanto mudava a sua perspectiva sobre o mundo, parece que mudava consoante os acontecimentos que A ou B provocam na sua vida. Sentiu-se pronto para acordar do pesadelo, para mergulhar na sua querida solitude e lhe oferecer, só a ela, toda a sua atenção. Mas interrogou-se, tanta vez, sobre o que aconteceria, a todas as pessoas e a todas as circunstâncias que alteravam constantemente a sua forma de estar, se isso de facto acontecesse, que as respostas só o deixaram ainda mais destabilizado. Calou-se, por breves momentos, e dedicou-se àquilo que sabia melhor fazer, desejar o que podia ter e não deveria querer possuir. Por fim, rendeu-se aos prazeres de um simples, e, isoladamente, apenas inofensivo acto. Não quis mais reflectir, parece que foi esse o remédio. Agiu lentamente, sem pressas, inspirando e expirando, consumindo o fumo esbranquiçado que lhe apaziguava os pensamentos, como se ele fosse o seu melhor amigo, e como todos os outros, se desfazia no ar frio da noite. No dia seguinte, acordou e, sem nexo, sem princípio ou fim, lembrou-se de que todos os seus sonhos e desejos coincidiam com uma coisa: ter aquilo que não tinha e que desesperava muito por ter. E lá se levantou para mais um dia, como outro qualquer.