16 maio, 2011

Esvaziamento

A chuva lavou-lhe a alma, retirou-lhe o peso que a poeira há muito acumulada lhe obrigava. Mas não lhe lavou o que mais precisava, o buraco que tem no peito. E é sempre assim, apenas se fica limpo aparentemente, por dentro nada se altera, nada se mexe, nada se decompõe. Parece até não fazer sentido, tanto tempo com o mesmo buraco, tantos dias a lamentar o inevitável. Talvez a chuva de amanhã seja outra, outra que contenha uma poção mágica que lhe volte a preencher o vazio com algo tão melhor quanto a razão do esvaziamento.