29 janeiro, 2011

A carta que te escreveria

Olá guitarrista,

Eu sei que não tens paciência, muito menos agora, e sei que te estás a marimbar para esta merda toda. Mas se eu não te lembrar, tu esqueces. E se esqueceres, vais sentir saudades. Não quero que sintas saudades do que ainda é teu, nunca ninguém deveria sentir falta das pessoas que fazem parte da sua vida. E o que te quero dizer, concretamente, é isto:
A minha vida não está a correr como queria, não tenho todos ao pé de mim, vivo com pessoas que já nada me dizem, raramente vejo o meu pai e quase que já só conheço a minha mãe pela voz. Não tenho tempo para mim e para as coisas de que gosto, passo o dia numa rotinha infernal onde só quem a quebra são duas pessoas que, felizmente, já são muito de mim. Até aqui, tudo bem, eu aguento. Mas é de ti que tenho medo, é de ti de quem tenho mais saudades. Sabes aqueles meses do início, de quando eras um simples conhecido? Eu sei, parece, e está, a anos de distância daqui. No entanto, eu gostava desse tempo, gostava da simplicidade de tudo o que eramos. Gostava de ti com naturalidade. Não é que já não goste, mas quando me lembro do que passou mais tarde, fico com dúvidas e baralho as coisas. Ando a ler demadiadas histórias de amor, talvez por não ter um, me apegue ao que já tive ou aos que sonhava ter. Mas gostar de ti era de facto, fácil, sem complicações. Agora, depois de tudo, estou sempre com perguntas na cabeça, embora, bem no fundo, acredite que amigos como tu não se perdem, podem ficar distantes, chatos, diferentes, mas nunca perdem a capacidade de brincar ou de falar sobre tudo ou sobre nada. Amigos, como tu, não se cansam de aturar as birras dos amigos, as frases brutas ou as tentativas de perceber se estás bem. Tu e a mimi, vieram na altura certa, ficaram na altura certa e de certo não haverá altura certa para se irem embora. Só gostava que entendesses que, todo o valor que não tei dei quando deveria ter dado, dou-to agora mil vezes mais. Só gostava que tomasses consciência de que posso estar muito longe de ti, fisicamente, mas sou um pilar para ti se assim o quiseres. Aprendi a conhecer-te e a entender-te, deveria também tê-lo conseguido bem mais cedo, para percebes que de facto não tenho palavras para dizer o quanto gosto de saber que constas da minha pequena lista de amigos. Gostava de ter aproveitado melhor isso, no início, quando tínhamos tudo para nos darmos bem, como deve ser. E, mais que tudo, gostava que saísses desse quarto escuro e visses o que há fora dele, que percebesses que existe uma pessoa que, apesar de não quereres saber, se importa contigo. Gostava de um dia poder me embebedar na tua companhia, só para termos a oportunidade de falarmos mal do amor sem limites ou restrições, para ficares a saber que sou quase como tu, uma adolescente que odeia a vida e tudo o que ela obriga. Gostava que me voltasses a chamar de melhor amiga, não porque está na moda ou qualquer merda parecida, mas porque nessa altura eu sentia-me aconhegada, por ti e por saber que também te aconhegava. Apenas quero que saibas que serás sempre o meu guitarrista parvo e variado dos pirolitos. Porque, por mais discussões que tenhamos, por mais anos sem te ver, por mais dificuldades em falar contigo, eu gosto mais de ti do que alguma vez poderia ter imaginado. E tenho muito orgulho em nós, em saber que somos completamente diferentes e completamente amigos. É nisso que acredito que somos, amigos no verdadeiro sentido da palavras.
Eu sei, que bela merda, estás a pensar. Mas não interessa. Sabes que quando é preciso, eu tenho de falar. Espero que te tenha ajudado a lembrar. Não é ser chata, é ver que precisas de mimos. Até os mais fortes e insensíveis precisam de mimos para conseguir adormecer. Dorme bem e sonha que o primeiro verão juntos irá voltar. Pode ser que volte mesmo, mas ainda em melhor versão.

Até sempre,
a tua lisboeta.

(Esta era a carta que te escreveria, se soubesse a tua morada.)