16 novembro, 2010

Réplicas

Eram tantas as limpezas que o Sr. Manel tinha de fazer à sua junção de histórias que não sabia por onde começar. Foram muitos anos a querer esquecer o que a vida lhe dera, foram tantos os dias a querer a esperança de conseguir se arrumar, e os longos serões, que passava sentado no chão dos seus sonhos, acabavam por o acordar de tanto tédio acumulado nas paredes da sua caixa craniana. Até que um momento lhe sussurrou ao ouvido, disse-lhe que as memórias tinham aprendido a gostar de si mesmas, o que fez com que as ditas histórias se tivessem aglutinado e formado um livro. O Sr. Manel sorriu, tinha finalmente arrumado os seus pensamentos e as suas vontades, percebeu que as rugas que a sua cara ostentava eram nada mais do que as histórias, que eram suas, e a sua identidade, que era formada por elas. Então pensou nas Marias e nos Manéis, seus vizinhos na casa que o universo lhes deu, e rezou aos ceús e aos ventos de forma a  conduzirem réplicas daquele sorriso para outras bandas, tão necessitadas dele como um dia o Sr. Manel o foi.